Categoria: Notícias
Data de publicação: maio 26, 2024

Controle biológico com Cordyceps (Isaria)

Matéria publicada na edição 141 da revista Citricultura Atual, da GCONCI, que teve colaboração da Especialista em Citros da Koppert, Jade Bortoletto.

Controle biológico com Cordyceps (Isaria)

TÁTICA FUNDAMENTAL PARA O MANEJO DE RESISTÊNCIA NOS POMARES

A citricultura enfrenta constantes desafios, especialmente no controle de pragas e doenças que podem

comprometer a produtividade e a longevidade. A necessidade frequente de pulverizações para o manejo de pragas e doenças, juntamente com a baixa disponibilidade de novos ativos e a crescente demanda por práticas agrícolas sustentáveis, têm impulsionado a busca de estratégias de manejo mais eficazes na cultura.

Entre essas estratégias, o controle biológico emerge como uma alternativa promissora, e é considerado uma

tática de controle importante para o manejo integrado de pragas. Embora ainda pouco difundido na citricultura, entre os macrorganismos destaca-se Tamarixia radiata, parasitoide de ninfas de psilídeo (Diaphorina citri), principal praga do cinturão citrícola, que, devido à dificuldade de produção e alta carga de inseticidas, é utilizada em áreas externas e não comerciais. Em relação aos microrganismos, os fungos entomopatogênicos têm ganhado destaque devido a sua elevada eficácia no controle fitossanitário, amplo espectro de ação e facilidade operacional, cada vez mais integrados às estratégias de controle de pragas e doenças em campo, sendo os mais estudados do gênero Metarhizium, Beauveria e Cordyceps (Isaria).

Recentemente, o gênero Isaria foi agrupado ao gênero Cordyceps com base em estudos filogenéticos moleculares conduzidos por Kepler et al. (2017); sendo assim, algumas espécies obtiveram a reclassificação da nomenclatura, por exemplo Isaria fumosorosea para Cordyceps fumosorosea. Sendo o gênero de fungos entomopatogênicos que mais se destaca entre os agentes de controle biológico, uma vez que diversas cepas de Cordyceps têm a capacidade de infectar todos os estágios de desenvolvimento de insetos e ácaros, possuindo ampla variedade de hospedeiros, maior rusticidade e agressividade que outros fungos já estudados. Atualmente, é utilizado como uma alternativa estratégica para manejo de importantes pragas agrícolas e vetores de doenças em culturas perenes e anuais.

Os fungos entomopatogênicos são considerados como generalistas, principalmente devido ao seu modo de ação, que se baseia na adesão e germinação de conídios no tegumento de insetos e ácaros, liberação de enzimas e metabólitos que acabam levando o inseto à morte. Possui suas interações com o hospedeiro influenciadas por condições ambientais, como temperatura, umidade, luz e radiação ultravioleta, além de fatores nutricionais e a susceptibilidade do próprio hospedeiro. A especificidade e a rusticidade de cada fungo podem variar significativamente não apenas entre espécies, mas também entre cepas isoladas da mesma espécie. Cada cepa possui suas próprias características únicas, incluindo sua capacidade de infectar determinadas espécies de insetos ou ácaros, sua resistência a condições ambientais adversas e sua eficácia como agente de controle biológico.

A espécie Cordyceps fumosorosea vem sendo amplamente estudada para a cultura, apresentando eficiência superior a 80% na mortalidade de adultos de D. citri, praga mais importante da atualidade dentro do cinturão citrícola, além de outras pragas que atacam os citros, como o Ácaro da Leprose (Brevipalpus yothersi) e Ácaros Tetraniquídeos (Panonychus citri), Pulgão Preto (Toxoptera citricida) e Mosca Negra (Aleurocanthus woglumi). Apesar de possuir modo de ação completamente diferente dos ingredientes ativos utilizados atualmente, estudos em laboratório mostram que após oito dias de aplicação, a dose de 200 mL/100 L água do inseticida microbiológico ‘Isaria fumosorosea Cepa ESALQ 1296’ alcançou 90,7% de eficiência de controle para o Ácaro da Leprose, se assemelhando ao padrão utilizado, produto formulado com ingrediente ativo espirodiclofeno com 92,7% de eficiência aos nove dias após aplicação.

A utilização de Cordyceps como parte de um programa de manejo integrado de pragas pode ajudar os citricultores a enfrentar os desafios crescentes de resistência a pesticidas, realidade hoje presente em diferentes cultivos. Ao contrário dos pesticidas químicos, que podem perder sua eficácia ao longo do tempo devido à seleção de pragas resistentes, os fungos entomopatogênicos como o Cordyceps têm um modo de ação complexo que torna menos provável o desenvolvimento de resistência, não sendo encontrada em estudos nenhuma evidência de resistência emergente ao uso contínuo. Isso pode proporcionar aos citricultores uma ferramenta mais duradoura e eficaz para o controle de pragas a longo prazo, contribuindo para o manejo de populações tolerantes ou resistentes remanescentes nos pomares, podendo aumentar a vida útil dos produtos químicos, prolongando sua eficácia com complementação de manejo, utilizando dois modos de ação completamente diferentes, e reduzindo o estabelecimento dessas populações.

A introdução de Cordyceps no sistema, além do objetivo de controle de insetos e ácaros, pode contribuir para a preservação e a promoção dos inimigos naturais já presentes naturalmente, devido a sua seletividade. Atuando em sinergia com predadores e parasitoides, mantendo as populações de pragas abaixo de níveis prejudiciais à cultura, contribuindo para o aumento da resistência ambiental.

No entanto, apesar do seu potencial como agente de controle biológico, o uso de Cordyceps na citricultura ainda enfrenta desafios significativos. Um dos principais obstáculos é a necessidade de formulações que garantam a viabilidade e eficácia do fungo no campo, protegendo o conídio de misturas de tanque, possibilitando o consórcio com o operacional já realizado e de condições ambientais adversas como exposição à radiação ultravioleta.

Em conclusão, o manejo biológico com Cordyceps oferece uma abordagem sustentável e eficaz para o controle de pragas na citricultura, não só restabelece o equilíbrio no sistema agrícola, mas também promove uma agricultura mais responsável, rentável e com menos resíduo. Com sua seletividade aos inimigos naturais, capacidade de controle de insetos e ácaros devido ao amplo espectro de ação, representa uma importante ferramenta para manejo de pragas em sinergia com o manejo convencional já realizado. No entanto, é fundamental continuar investindo em pesquisa e desenvolvimento para superar os desafios e maximizar o potencial da utilização de fungos entomopatogênicos como parte integrante do pacote de manejo integrado citrícola.

Precisa de ajuda?
Atenção:

Você está no site Koppert do Brasil.
O conteúdo deste site é destinado a agricultores e demais profissionais do setor agrícola.